Todos os alimentos têm sido de alguma maneira transgênicos. É muito provável que você comeu esta semana tenha sido proveniente de culturas que antes não existiam na natureza ou que evoluíram o suficiente para aumentar de tamanho. Você provavelmente já comeu alimentos transgênicos ou geneticamente modificados ou “clonados” e também pode ter ingerido plantas cujos antepassados foram destruídos deliberadamente com radiação. Você pode comprar todos esses produtos sem sair da seção de “orgânicos” em seu supermercado local.
A tendência contra a modificação genética está escondendo o verdadeiro debate sobre qual é o nível de manipulação genética que a sociedade considera aceitável. Os alimentos transgênicos ou geneticamente modificados (OGM) são muitas vezes vistos como algo a favor ou contra, mas não há um meio termo.
No entanto, isto é um erro, e proibições gerais, tais como aquelas de muitos países europeus só reprimem ainda mais o debate. Afinal, há muito poucos alimentos na nossa alimentação que são verdadeiramente “naturais” e até mesmo o mais básico é o resultado de algum tipo de manipulação humana.
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A seleção natural
Observe por um momento as cenouras, milho ou melancias, são todos alimentos que podem ser consumidos sem muita ressalva. No entanto, em comparação com seus ancestrais silvestres, mesmo as variedades mais “orgânicas” a maioria é quase irreconhecível.
A domesticação geralmente implica na seleção daqueles traços considerados benéficos, tais como um alto rendimento. Com o tempo, muitas gerações de seleção podem alterar substancialmente a composição genética de uma planta. A escolha feita pelo homem é capaz de gerar formas que são extremamente pouco prováveis que ocorram na natureza.
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Duplicar o genoma
A seleção que realizaram nossos antepassados também envolveu um processo genético que só foi descoberto há relativamente pouco tempo. Enquanto os seres humanos têm metade da informação genética de cada um dos nossos pais (metade de um par de cromossomos), alguns organismos podem ter duas ou mais cópias de cromossomos. Isto é chamado de “poliploidía” e é muito difundido entre as plantas que muitas vezes resulta em características exageradas, tais como o tamanho, o que se acredita ser o resultado de múltiplas cópias do mesmo gene.
Inconscientemente, muitas culturas têm sido involuntariamente selecionadas para um nível maior de poliploidía (totalmente natural) como uma grande fruta ou um crescimento vigoroso que são coisas desejáveis. Gengibre e maçã, por exemplo, são triplóides, enquanto batatas e repolho são tetraplóides. Algumas variedades de morango são octoplóide, o que significa que tem oito cópias do mesmo cromossoma, em comparação com os dois que possui o ser humano.
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Plantas clonadas
É uma palavra que geralmente provoca algum desconforto, ninguém realmente quer comer alimentos “clonado”. No entanto, na natureza, a reprodução assexuada é a estratégia de reprodução central para muitas plantas e os agricultores têm utilizado este método há séculos para aperfeiçoar as suas culturas.
Uma vez que uma planta com características desejáveis é descoberta, como por exemplo uma banana especialmente saborosa e durável, a clonagem nos permite alcançar réplicas idênticas. Isso pode ser totalmente natural através de um corte ou artificialmente induzido com hormônios vegetais. Faz tempo que as bananas perderam as sementes que permitiram que seus ancestrais selvagens reproduzissem, por isso, se você comer uma banana você está comendo um clone.
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Mutações induzidas
A seleção, tanto humana como natural, interfere na variação genética dentro de uma mesma espécie. Se um traço ou característica nunca acontece, então nunca poderá se selecionar. Com a finalidade de gerar uma maior variação para o melhoramento convencional, os cientistas nos anos 20 do século passado começaram a expor as sementes a produtos químicos ou a radiação.
A diferença das tecnologias atuais de modificação dos alimentos modificados geneticamente (OGM), é que esta “induz a mutação” sendo em grande parte não direta e gera mutações aleatórias. A maioria serão inúteis, mas algumas serão desejáveis. Mais de 1.800 variedades de culturas e plantas ornamentais, incluindo variedades de trigo, arroz, algodão e amendoim foram desenvolvidas e lançadas em mais de 50 países. A mutação induzida foi creditada para estimular a “revolução verde” do século XX.
Muitos alimentos comuns, como grapefruit e as variedades de trigo são o resultado desta abordagem, e, surpreendentemente, eles podem ser vendidos como “orgânicos” certificados.
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Detecção de modificações genéticas
A tecnologia de modificação genética não tem que envolver nenhum tipo de manipulação direta das plantas ou das espécies. Pode ser usado para selecionar determinadas características, tais como a susceptibilidade à doença ou para identificar que o cruzamento “natural” pode ser melhor para produzir um melhor resultado ou rendimento.
A engenharia genética permitiu aos pesquisadores identificar com antecedência qual traço é mais provável que seja susceptível a uma doença que leva à morte. As florestas futuras poderão ser cultivadas a partir de árvores resistentes. Poderíamos chamar isso de seleção humana “genômica informada”.
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Cisgênicos e transgênicos
Isto é o que a maioria das pessoas querem dizer quando se referem aos alimentos transgênicos ou geneticamente modificados (OGM), quando genes que são inseridos artificialmente em uma planta diferente para melhorar o seu rendimento, tolerância ao calor ou a seca, ou para produzir melhores medicamentos ou até mesmo adicionar uma vitamina. Através do melhoramento convencional, tais mudanças podem levar décadas. Adicionar esses genes proporciona um atalho.
Agora, a pergunta é: dada toda a informação e com o objetivo de superar os desafios alimentícios do futuro. Por que não trazer mais oportunidades de diálogo que acabem com a desinformação sobre os alimentos transgênicos ou geneticamente modificados?
Mais informações: The Conversation