A criação de galinhas caipira é uma exploração agropecuária considerada de grande utilidade. Comumente é adotada em pequenos estabelecimentos agrícola visando manter uma atividade alimentar e produtiva durante todo o ano, proporcionando também uma melhor convivência em regiões com as estações de escassez de recursos hídricos.
Na atividade avícola de criação semi-intensiva de galinhas e frangos caipiras são criadas presas na fase inicial e depois ficam soltas para pastar num cercado, recebendo suplementação vegetal, sendo recolhidas à noite. A galinha e o frango caipira têm permanente contato com produtos vegetais (restos de culturas, pasto, milho, etc) e também de produtos naturais (minhocas, pequenos crustáceos e insetos em geral). Isso confere à carne e aos ovos dessas aves um sabor especial, graças aos vários pigmentos ingeridos pela ave.
Estão aqui apresentados os benefícios esperados; as características técnicas e as condições do estabelecimento agrícola e as orientações técnicas necessárias a serem adotadas pelos agricultores ao optarem pela criação de galinhas caipira.
1. BENEFÍCIOS ESPERADOS.
A criação de frangos de caipira constitui excelente alternativa de utilização da mão de obra familiar, principalmente a mão de obra feminina, proporcionando a participação da mulher e dos filhos nessa atividade de fácil manejo. Pode ser desenvolvida em pequenas áreas de terra, onde as aves com excelente capacidade de conversão alimentar aproveitam grãos e outros produtos de origem vegetal como: frutas, hortaliças, mandioca, sorgo, milho, capins e restos de cultura para produção de carne e ovos constituindo-se em fonte de proteína animal de baixo custo, na alimentação de toda a família e geração de renda.
Tal procedimento trará:
- Melhoria da segurança alimentar e nutricional para a família;
- Renda extra;
- Produção de adubo orgânico.
2. CONDIÇÕES PARA INSTALAÇÃO DO AVIÁRIO.
O local para instalação do aviário deve ser seco e limpo, compreendendo a redução de árvores e a eliminação de arbustos, o roço, a remoção de tocos, raízes e galhos. É necessário também que haja a disponibilidade de água para a criação das aves.
As condições de vento devem ser observadas para que não haja problemas com mau cheiro direto nas residências. Quanto mais perto da área de manejo, melhor, menos tempo irá ser gasto no trato das aves.
O aviário deverá ser construído com o seu eixo longitudinal orientado no sentido Leste-Oeste (nascente-poente). Nessa posição, nas horas mais quentes do dia, a sombra vai incidir apenas na cobertura, sem raios solares dentro da instalação, e a carga calorífica recebida pelo aviário será a menor possível.
3. IMPLANTAÇÃO DO AVIÁRIO E EQUIPAMENTOS.
O planejamento das instalações é de grande importância para o sucesso da atividade avícola, elas deverão ser projetadas para garantir o conforto térmico das aves, protegê-las de predadores, das chuvas, dos ventos e do sol.
O projeto aqui proposto constará da construção de um aviário telado medindo 5,50 m x 3,50 m, correspondendo 19,25 m².
O projeto consta também de um piquete de pastejo que terá uma área de 100 m². As árvores que estão dentro da área de construção dos piquetes deverão ser preservadas e, na ausência delas, fazer o plantio. O aviário terá alvenaria revestida e caiada, com cobertura de madeira e telha cerâmica tipo canal e instalações elétricas. Terá 3 portas e caixa d´água com capacidade para 310 litros com tubos e conexões.
Aviário em alvenaria revestida e caiada, com cobertura de madeira e telha cerâmica tipo canal, instalações elétricas e caixa d´água.
O projeto é para 100 pintos de um dia e requer os equipamentos, insumos e medicamentos: comedouros, bebedouros, círculo de proteção, ração inicial, farelo de milho, farelo de soja e Premix (núcleo de crescimento) para implantação do projeto, vacinas e vermífugos.
4. MANEJO DOS PINTOS.
Os pintos produzidos no estabelecimento ou os adquiridos com um dia de vida em incubadoras devem receber cuidados para que se desenvolvam saudavelmente, aumentando assim a produtividade da criação.
Os pintos devem ser criados em cercados pelo menos até 4 semanas de idade. Nos cercados, eles receberão mais atenção, como: água, aquecimento, ração de melhor qualidade, vacinas e medicamentos. Além disto estarão afastados das aves adultas que podem transmitir doenças. Assim a mortalidade diminuirá sensivelmente, e o desempenho melhorará substancialmente. Uma área de 1 metro quadrado será suficiente para 40 a 50 pintinhos.
O aquecimento dos pintinhos é uma prática importante dentro do galinheiro, pois as aves necessitam de aquecimento na fase inicial, sendo que deverá se estender por aproximadamente 12 dias, dependendo das condições climáticas. Existem os aquecedores chamados campânulas a gás e aquecedores com lâmpadas elétricas.
O comportamento das aves auxilia no controle de temperatura. Na simulação abaixo da temperatura do aquecedor no círculo de proteção, pode-se ver o comportamento dos pintinhos de acordo com o a temperatura: frio, quente, corrente de ar e ideal.
Frio | Quente | Corrente de ar | Ideal |
A ração inicial deverá ser fornecida logo na chegada dos pintos, pelo menos durante um mês, sejam os pintos nascidos na propriedade ou não, alimentá-los com ração inicial para aves. Poderá ser posta em cima papéis grossos até o terceiro dia de vida, isso proporcionará maior consumo de ração as aves, evitando a ingestão de cama nas primeiras horas de vida do pinto. Os principais ingredientes utilizados nas rações são o milho, farelo de soja, óleo de soja e o núcleo concentrado (minerais e vitaminas, vendidos em casas de produtos agropecuários). A ração inicial será fornecida até os 21 dias.
Vacinação: Os pintinhos adquiridos de incubadoras deverão já vir vacinados. Os pintinhos não vacinados devem receber a 1ª dose de vacina contra newcastle de 10 a 12 dias por via ocular ou na água. A vacinação contra bouba deverá ser feita em todos os pintinhos, comprados de incubadoras ou não, entre a 3ª e 4ª semana de criação. Após 4 semanas, os pintinhos serão colocados com as demais aves adultas.
5. MANEJO DAS AVES ADULTAS.
Neste sistema de semiconfinamento, após os 30 primeiros dias de vida, as aves poderão ter acesso aos piquetes de pastejo. As aves serão recolhidas ao galinheiro às 5 horas da tarde e soltas às 8 horas da manhã. Para isso, há necessidade de um galinheiro fechado. Na área do piquete de pastejo, as aves deverão ter à disposição ração e água de boa qualidade. Os bebedouros devem ser colocados em pontos estratégicos no parque, à sombra, e a água deve ser trocada diariamente.
A suplementação vegetal e a atividade física proporcionada pelo acesso ao piquete de pastejo irão proporcionar carnes mais tenras e saborosas, ovos mais avermelhados e de paladar muito agradável
Comedouros com farinha de ossos calcinada também poderão estar disponíveis para as aves.
Como a grande maioria das criações envolve frangos e galinhas poedeiras, sugere-se que todas as aves sejam presas à tardinha e, na manhã seguinte, após receberem uma ração suplementar, sejam soltos as frangas e frangos, deixando as galinhas criadeiras e as prestes a entrarem em postura presas até 10 horas da manhã. Este manejo permitirá mais atenção às aves, quando serão ofertados melhor alimentação, tratamento com vermífugos, vacinas e outros medicamentos, se necessário, e melhor observação da postura das aves. É também na parte da manhã que as galinhas botam mais ovos.
Para as aves de postura é necessário a confecção de ninhos, eles podem ser de madeira, com dimensões de 35 cm de altura x 35 cm de comprimento x 35 cm largura. É recomendado que os ninhos sejam colocados antes de as aves iniciarem a postura, numa proporção de 5 aves por ninho.
6. MANEJO ALIMENTAR.
O sucesso da criação de aves está relacionado com um adequado manejo alimentar. A nutrição animal visa atender a todos os nutrientes (proteína, energia, vitaminas, minerais e água) que os animais exigem para expressar todo o seu potencial produtivo.
Alimentos que podem ser fornecidos às aves à solta na criação:
- Grãos: milho, girassol, soja, feijão-guandu, arroz quebradinho, sorgo, etc.
- Verde: folhas de couve, repolho, alface, chicória, mostarda, mamão, goiaba, banana, mandioca, abóbora, inhame, capins, etc. As frutas e os legumes fornecem vitaminas e sais minerais às aves, além de aumentar a pigmentação (cor) da gema.
- Sais minerais: manter os comedouros com calcário calcítico. Cascas de ovos moídas servem também como fonte de cálcio.
7. MANEJO SANITÁRIO.
A alta mortalidade nos plantéis avícolas está relacionada com a falta de cuidados higiênicos e de profilaxia adequada à criação. Usualmente, os pintos já vêm vacinados contra a doença de Marek, porém deve ser constatada, no certificado de sanidade avícola, a existência da aplicação da vacina de Newcastle. Caso os pintos não tenham sido vacinados contra a doença de Newcastle, deverá ser incluída no programa de vacinação.
Doenças e Vacinações:
Prevenção contra Newcastle: É uma doença de alta mortalidade. Não há remédio para a cura. Previne-se com vacinação que pode ser feita na água, no olho ou na narina.
Animais jovens e adultos:
É importante seguir o esquema de vacinação:
1a = aos 10 dias de idade.
2a = aos 30 dias de idade.
3a = aos 60 dias de idade.
4a = aos 120 dias de idade.
– Vias de aplicação: nasal, ocular, intramuscular ou na água dos bebedouros.
– Após a quarta vacina, revacinar as aves de quatro em quatro meses, caso haja surtos da doença. Vacinar 1 gota no olho ou no nariz.
Prevenção contra Bouba Aviária: É doença transmitida pela picada de mosquitos.
– Vacinar os pintinhos entre 20 e 30 dias e repetir aos 70 a 80 dias de idade. Repetir uma vez por ano se tiver surto da doença.
Via de aplicação: face interna da coxa. Arrancar 3 a 4 penas da coxa e esfregar a vacina com uma escova ou pincel de pelos duros no local.
Observar as recomendações do laboratório produtor das vacinas as recomendações sobre a temperatura de conservação, manuseio e transporte. Sempre que necessário buscar apoio na assistência técnica de um veterinário ou zootecnista.
8. PRÁTICAS HIGIÊNICO-SANITÁRIAS DESEJÁVEIS.
Manter limpos e desinfetados os equipamentos e as instalações na criação:
Bebedouros – lavar diariamente com água e sabão e, eventualmente, desinfetar com solução de água sanitária.
Comedouros – retirar as crostas de fezes, no mínimo uma vez por mês, e periodicamente desinfetá-los com solução de água sanitária. Não deixar comida velha e mofada nos comedouros.
Ninhos – pulverizar contra piolhos com produtos apropriados, observando as recomendações dos fabricantes. O material utilizado para cobrir os ninhos pode ser de palha de milho e capim seco.
Piso do galinheiro – de chão batido, tomando o cuidado de deixar a parte interna mais ou menos 20cm mais alta que a externa, para evitar a entrada de água no galinheiro, sendo importante também a utilização de cama que pode ser feita de serragem, de palha de arroz ou de capim seco picado, tomando-se o cuidado de utilizar o devido manejo higiênico e sanitário. Retirar a cama e pulverizar com solução de creolina ou benzocreol de 3 em 3 meses.
Poleiros – raspar periodicamente os poleiros para retirar as crostas de fezes e pincelar com solução de cal e creolina, periodicamente. Pulverizar com esta solução as laterais do galinheiro, se for de madeira, bambu ou alvenaria.
Água – deve ser de boa qualidade.
Animais mortos – não os deixar na área do parque ou dentro do galinheiro.
Devem ser queimados ou enterrados em fossas apropriadas.
Área do piquete – mantê-la sem a presença de lixo e com muito material orgânico. Em piquetes sem nenhuma vegetação, deverá ser realizada a retirada das fezes das aves para evitar proliferação de micro-organismos diversos, no mínimo uma vez ao mês.
Vermífugos – fornecer vermífugos às aves pelo menos de 90 em 90 dias ou cascas de sementes de abóbora, regularmente.
Ratos – Os ratos podem causar uma série de doenças ao homem (leptospirose, hepatite, etc.), e prejuízos à criação quando consomem a ração das aves. Todas as vezes que se notar a presença de ratos na criação ou nas proximidades devem-se usar raticidas (veneno para matar ratos), de acordo com as instruções do fabricante.
Todas as vezes que houver dúvidas ou necessidade de recomendações técnicas, o produtor deve procurar orientação de técnico especializado (veterinário, zootecnista).
Croqui de aviário de alvenaria e madeira com caixa d`água para 100 aves.
Croqui do aviário de madeira coberto com telha canal e piquete para 100 aves.
Ver também: OS ALIMENTOS ORGÂNICOS SÃO MAIS SEGUROS E SAUDÁVEIS?
REFERÊNCIAS:
EMATER MG – Criação de Galinha Caipira
EMBRAPA – MANUAL SOBRE CRIAÇÃO DE GALINHA CAIPIRA NA AGRICULTURA FAMILIAR: Noções básicas
PROJETO COOPERAR – CARTILHA DAS TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS DE CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO.
SEBRAE – Criação de Aves Caipiras.
Um comentário em “CRIAÇÃO DE GALINHAS CAIPIRA”