frutas e legumes

Dessalinização da água do mar ou transposição de bacias: alternativas para o semiárido brasileiro

Como alternativa hídrica para o semiárido brasileiro, certamente uma das soluções para o problema poderia ser o aproveitamento da abundante água do mar para diversos usos através da dessalinização. Outras alternativas a exemplo de reservatórios, poços e transposições de bacias também deverão ser consideradas.

O governo do Brasil em suas diversas proposições para o desenvolvimento do semiárido brasileiro, anunciou a intenção de implementar ações direcionadas para a realização de mudanças substanciais no panorama do semiárido da região Nordeste.

Com esse propósito representantes do novo governo brasileiro anunciaram que em entendimentos com representantes de Israel há a intenção do governo israelense de realizar no Nordeste do Brasil a instalação de uma usina piloto de dessalinização de água do mar.

Israel é líder nesse tipo de tecnologia e atualmente cerca de 80% da água potável consumida pela população israelense é proveniente do mar. Há informações evidentes que a tecnologia empreendida por Israel consegue processar um litro de água dessalinizada por um preço menor do que o valor regular disponível nos mercados.

Em Israel chove menos de 600 mm por ano, em média. O país que enfrentou anos de crise hídrica conseguiu resolver o problema da escassez através desta tecnologia.

Para maiores informações sobre o assunto, apresentamos em seguida um resumo sobre o semiárido brasileiro; os recursos hídricos do Brasil; e relevantes alternativas hídricas para o desenvolvimento econômico e social do semiárido brasileiro.

  1. O semiárido brasileiro.

O Semiárido brasileiro compreende parte dos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais.

Os índices de precipitação e a irregularidade do seu regime na região Nordeste delimita o semiárido brasileiro e apresenta baixos índices pluviométricos (inferiores a 900 mm), caracterizando-se por apresentar temperaturas elevadas durante todo ano, baixas amplitudes térmicas (entre 2ºC e 3ºC), forte insolação e altas taxas de evapotranspiração. Os elevados índices de evapotranspiração normalmente superam os totais pluviométricos irregulares, configurando taxas negativas no balanço hídrico.

Com a ocorrência cíclica de períodos de redução na precipitação pluviométrica, consolidando as secas ou estiagem, a região semiárida do Nordeste do Brasil tem vivido períodos regulares de escassez de água. Atualmente, desde 2012 os reservatórios do Nordeste têm sofrido quedas contínuas nos estoques de água, configurando uma grave situação de crise hídrica.

2. Recursos hídricos brasileiro como alternativa para o desenvolvimento do semiárido.

Apesar da grande região semiárida brasileira, o Brasil desponta como o país com maior potencial de recursos hídricos do planeta. O Brasil detém 12% das reservas de água doce do planeta, perfazendo 53% dos recursos hídricos da América do Sul. Grande parte das fronteiras do País é definida por corpos d’água – são 83 rios fronteiriços e transfronteiriços (que ultrapassa os limites das fronteiras), além de bacias hidrográficas e de aquíferos. As bacias de rios transfronteiriços ocupam 60% do território brasileiro.

Diante da potencialidade de recursos hídricos do Brasil, surge naturalmente diversas alternativas que merecem uma análise socioeconômica mais detalhada para se identificar e definir qual a alternativa mais adequada para ser implementada.

2.1. Açudes, poços e cisternas.

Dentro do contexto da ocorrência de períodos cíclicos de estiagem, a construção de açudes na região Nordeste do Brasil tem sido a prática implementada há mais de um século para aumentar a oferta de água nos períodos de seca. Essas obras têm desempenhado um relevante papel na disponibilidade de recursos hídricos pela capacidade de estocar água nos períodos de chuvas e liberar parte do volume armazenado nos períodos de estiagens para abastecimento e atender a diversos usos.

Juntamente com a construção de grandes represas na região semiárida do Nordeste, é requerido um eficiente gerenciamento no uso das águas das grandes represas e sempre que possível, a interligação de suas bacias, como forma de utilizar melhor as suas águas.

A perfuração de poços em regiões sedimentárias também surgiu como outra alternativa considerada, a qual deve ser apoiada conjuntamente com a ampliação do programa de construção de cisternas no meio rural.

2.2.Dessalinização de Água do Mar.

Usina de dessalinização

A dessalinização é um processo físico-químico largamente implementado em Israel, no qual se retira os sais da água do mar e a transforma em doce ou adequada ao consumo humano. O processo de dessalinização atualmente empregado por Israel dura cerca de 30 minutos e baseia-se na “osmose inversa”, onde, por intermédio de pressão, a água do mar atravessa um sistema de membranas que separa o sal de outras substâncias, tornando-a potável. Em seguida, as substâncias retiradas da água são devolvidas ao mar.

A dessalinização por membrana possui custo estimado, nos Estados Unidos, de US$ 0,75 a US$ 1,50 por cada mil litros de água. É mais do que o dobro do gasto de produção de algumas concessionárias que tratam e distribuem a água captada nos rios do Brasil. Ainda assim é três vezes mais barata do que os processos térmicos, que consomem mais energia.

No mundo inteiro, há 13.800 plantas de dessalinização que produzem no total mais de 45,5 bilhões de litros de água por dia de acordo com a International Desalination Association.

Particularmente com relação a Israel, constata-se que mais de 60% do seu território é deserto e semiárido. Toda a terra fértil é irrigada, e a restrição fundamental que tem a produção agrícola é a carência de água. O resultado é que a principal fonte hídrica – quase 90% do total – é água dessalinizada ou reciclada.

É através da irrigação por gotejamento de alta tecnologia que Israel produz cereais, verduras, legumes, frutas e flores, com parte da produção destinada à exportação. Israel também produz sorgo, trigo, milho e algodão. Na pecuária, as vacas de Israel produzem as maiores quantidades de leite por animal no mundo, com uma média superior a 10.000 litros por ano.

A tecnologia empregada na agricultura de Israel, faz com que ela seja considerada a mais modernizada do mundo. O nível de educação e escolaridade ajuda a dar suporte a essa constatação, quando se verifica que dois terços de sua força de trabalho têm diplomas universitários e cursos de pós-graduação. A sua capacidade de adaptação e de mudanças diante de novas tecnologias e oportunidade do mercado de alimentos é uma realidade. Ver mais em TECNOLOGIA AGRÍCOLA DE ISRAEL É EXEMPLO PARA O MUNDO.

2.3. Transposição de bacias Hidrográficas.

Visando atenuar os efeitos das estiagens regulares na região semiárida, o Brasil executou na segunda década deste século uma grande obra de engenharia que foi a transposição do rio São Francisco. Outros países do mundo, a exemplo da China tem realizado grandes obras para operações de transposição objetivando levar água das regiões úmidas para regiões secas. A China está fazendo uma transposição do Himalaia para Região Norte do país. Outro exemplo é o poliduto saindo da Rússia até o mar da Turquia.

2.3.1. Transposição do rio São Francisco
Transposição do Rio São Francisco
Transposição do Rio São Francisco

A transposição do rio São Francisco é um projeto de deslocamento de parte das águas do rio São Francisco, através de canais em dois grandes eixos (norte e leste) ao longo do território de quatro estados do Nordeste: Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.O projeto com conclusão das obras em 2018 prevê o abastecimento de água e a irrigação nesses estados.

Com previsão de beneficiar 12 milhões de pessoas, o projeto prevê a captação de apenas 1,4% da vazão de 1.850 m³/s do São Francisco, dividida em dois eixos de transposição: Eixo Norte, atualmente em conclusão e Eixo Leste já concluído. Ver também: TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO: ÁGUA PARA CONSUMO DOMÉSTICO E IRRIGAÇÃO.

2.3.2. Transposição do rio Tocantins

A transposição de águas do rio Tocantins para o Rio São Francisco seria uma outra solução para o Nordeste do Brasil. O projeto tem criado uma pauta de avaliações e debates dos pontos de vista ambiental e econômico no Congresso Nacional e no Governo Federal.

O projeto inicial é que o rio, com 2.416 quilômetros de extensão, seja interligado até chegar na barragem de Sobradinho, onde alcançaria e revitalizaria o São Francisco, curso de água também em transposição, auxiliando na tarefa de abastecer o Nordeste.

Técnicos argumentam que a transposição do Tocantins é uma necessidade da região Nordeste, diante dos possíveis colapsos de falta de água nos grandes centros urbanos e da incapacidade do São Francisco de garantir a segurança hídrica da região.

O rio Tocantins tem uma vazão média de 13.600 m³ por segundo. O argumento é que, se 50 m³, por exemplo, fossem retirados para a transposição, haveria pouco impacto no rio originário, mas já seriam capazes de aumentar consideravelmente a vazão do São Francisco, resolvendo boa parte do problema de abastecimento das regiões Norte e Nordeste.

2.3.3. Transposição do rio Amazonas

Os grandes rios estão longes das grandes concentrações populacionais do país. Uma outra alternativa que necessariamente é objeto de estudos sociais e econômicos diante dos problemas com abastecimento de água poderiam ser a realização de obras que levassem água do rio Amazonas para as regiões afetadas.

A Bacia Amazônica concentra mais de 90% da água doce do Brasil, sendo que aqui a população não representa 10% da população total brasileira. Enquanto as regiões Sudeste e Nordeste concentram quase 80% da população e tem uma disponibilidade hídrica de menos de 15%, ou seja, há um desequilíbrio entre a oferta de água e a demanda. Temos que olhar esse aspecto com muita seriedade, porque energia tem solução, mas não tem solução para fabricar água. É preciso deslocar água para onde falta”, justificou o representante do órgão que monitora dados geológicos e hidrológicos do país.

O Rio Amazonas joga no Oceano Atlântico em torno de 200 mil metros cúbicos por segundo. Na época de cheia esse volume pode ultrapassar 600 mil metros cúbicos por segundo. Estima-se que cerca de 1% do volume da vazão poderia abastecer São Paulo e o Nordeste do Brasil.

3. Considerações finais.

É inquestionável o potencial do semiárido do Brasil como uma real opção para o desenvolvimento econômico e social através de um adequado suprimento hídrico associado à irrigação e demais tecnologias disponibilizadas.

O semiárido do Nordeste do Brasil é uma das poucas regiões do mundo com clima tropical, significando dizer que não há ocorrência de neve nos invernos. Este aspecto, aliado à intensa insolação – o semiárido tem aproximadamente 3.000 horas de sol por ano – possibilita, com técnicas avançadas de irrigação, até 3 colheitas por ano.

Observando as opções hídricas expostas constata-se que há diversas alternativas que poderão ser implementadas para reduzir o déficit hídrico e impulsionar o desenvolvimento do semiárido do Nordeste do Brasil. Para isso é importante ressaltar a relevância da elaboração de um projeto técnico e econômico que avalie as peculiaridades naturais da região fazendo com que a implementação da opção hídrica definida seja associada as tecnologias disponibilizadas pelas entidades de pesquisa e experimentação.

É importante também ressaltar que se faça acompanhar de um planejamento econômico e financeiro com o gerenciamento do uso dos recursos hídricos, onde seja destacado a necessária gestão das águas no semiárido brasileiro e a implementação de uma efetiva assistência técnica e capacitação dos produtores.

Referências

  1. FISCHETTI, Mark; Fresh from the Sea; Scientific American; September 2007; vol. 297; issue 3; Scientific American, Inc.; p. 118-119.
  2. KRANHOLD, Kathryn; Water, Water, Everywhere.., The Wall Street Journal; January 17, 2008
  3. 100 Largest Desalination Plants Planned, in Construction, or in Operation — January 1, 2005
  4. Applause, at Last, for Desalination Plant; The Tampa Tribune; December 22, 2007
  5. FISCHETTI, Mark; Água doce que vem do mar; Scientific American Brasil; outubro de 2007; p. 94-95
  6. «Estudo para transposição do Eixo Sul do Rio São Francisco começa em março».
  7. http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/desenvolvimento-sustentavel-e-meio-ambiente/176-recursos-hidricos

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